Os anos 80 viram os preços dos jeans subirem, já quando designers como Marithé et Francois Girbaud, Katharine Hainnett e Paul Smith, regularmente, usavam denim em suas coleções. O apelo à sensibilidade teve, obviamente, mais participação no mercado do jeans como quis Calvin Klein e o velho favorito Fiorucci fez campanhas em revistas e TV que chocaram o público — o jeans foi vendido por preços recordes.
Brooke Shields na campanha de lançamento da Calvin Klein
A marca Dijon fez grande sucesso: sua clássica campanha com o dono da marca, Humberto Saad, posando ao lado de sua modelo exclusiva, Luiza Brunet, tornou-se uma das referências da década.
Luiza Brunet e Humberto Saad, anúncio da DIJON, década de 1980
As primeiras marcas brasileiras a aderirem ao novo formato de promover conceitos ao invés de vender apenas produtos foram, em sua maioria, as que tinham um público consumidor jovem, como a Triton e a Zoomp. Na época, elas conquistaram o consumidor com campanhas que demonstravam atitude e um estilo de vida moderno.
Na moda praia, o fio dental e a asa delta são lançados no Brasil. Os estilistas de destaque na época são: Ralph Lauren, Perry Ellis, Christian Lacroix, Karl Lagerfeld, Azzedine Alaïa, Yohji Yamamoto, Jean Paul Gaultier, Donna Karan.
A Lycra passa a fazer parte da composição do jeans e domina o mercado fashion. A feminilidade ganha destaque com as roupas ajustadas ao corpo, a lingerie ganha formas sensuais e eróticas. O erotismo, neste período, foi muito explorado pelo fenômeno da música pop, a cantora Madonna, usando microshort jeans com meias arrastão.
A liberdade sexual, roupas sensuais e movimentos eróticos no look de Madonna
Nos anos 80, se desenvolve ainda mais valorização do culto ao corpo, tanto pelos homens quanto pelas mulheres. O cooper e a aeróbica ganharam adeptos por todo mundo, tornando-se as práticas esportivas da moda deste período. No entanto, a liberdade sexual foi contida com o aparecimento da AIDS. Os arquétipos de fidelidade e masculinidade (virilidade) ficaram bem visíveis nesta época.
Para o sociólogo brasileiro Dario Caldas (1999), esta década caracterizava “um tempo ainda feito de discos de vinil, fitas cassetes e de videoteipes, em que o futuro era concebido de uma forma que a realidade dos anos 90 deixou para trás rápido demais” (CALDAS apud CATOIRA, 2006, p. 43).
As top models Tajana Patitz, Linda Evangelista, Naomi Campbell, Cindy Crawford,
Chistiy Turlington, Claudia Schieffer e Kate Moss, fenômenos dos anos 1990
Nos anos 90, a mulher é, ao mesmo tempo, dinâmica, ativa, executiva, esportista e sensual. Ela está no mercado de trabalho, batalhando lado a lado com o homem, chefiando família e empresa.
Nesta década houve a consagração global das marcas de luxo, além da explosão do fenômeno das top models, que passam a ser exploradas também pela indústria do denim, na qual o imperativo apelo sensual continua sendo o mais cultivado. No mundo sem fronteiras, a globalização estava no ar e a internet veio somente para reforçá-la. Nelson Mandela é libertado.
Princesa Diana e príncipe Willian atribuem requinte e nobreza ao denim
A pricesa Diana — Lady Di— foi uma das mulheres mais famosas do mundo: um ícone da moda e um ideal de beleza e elegância feminina. Vestindo jeans — a roupa democrática — ela era admirada pela sua dedicação à caridade e às causas humanitárias, em especial seu envolvimento no combate a AIDS e na campanha internacional contra as minas terrestres.
Nesta década foi realizada a clonagem da ovelha Dolly. Na moda, os principais estilistas são Jean Paul Gaultier, Dolce Gabbana, Prada, Giorgio Armani, John Galliano, Rei Kawakubo. O mundo testemunha um verdadeiro caos (ciência X misticismo; terrorismo X pacifismo). Em 1997, morre a Lady Di.
Na mistura de tendências da moda, aos poucos, um estilo retro traz de volta elementos dos anos 60 e 70, com o hippieismo voltando reeditado. Final de século, o minimalismo que surge nos movimentos da arte moderna chega à moda, com as roupas mais austeras, usadas com poucos acessórios.
Assim como na arte, minimalismo pode ser considerado como análogo à contracultura dos anos 60: ateísta, comunista e materialista. E o jeans fez parte dessa história, integrante de um sistema de moda e uma linguagem particularmente social. Cada vez mais, diminuem os contrastes entre os gêneros feminino e masculino e o visual andrógino passa a ser bastante explorado na publicidade do jeans, no final do milênio.
Os anos 90 visitam todas as décadas recuperando a imagem do jeans como peça básica. Básica, porém, diferente na modelagem, que traz detalhes utilitários e funcionais. As características de autenticidade começam a partir do tecido, como a ourela vermelha, o efeito rigspun, os índigos pré-encolhidos, os efeitos amassados dentre outros.
Muitas marcas formadoras de opinião mantiveram como base o tecido, o índigo como referencial. As formas, durante este período, receberam influência do workwear, militares ou idéias esportivas. No vai e vem da moda, o estilista norte-americano Tom Ford, designer da grife italiana Gucci, trouxe, na época, de volta ao mercado, o jeans rebordado, usado na década de setenta. Penas, miçangas, franjas, bordados e ilhoses, passam a fazer parte integrante da calça jeans, aumentando significativamente as vendas no mundo inteiro.
No início do século XXI, um século e meio depois da industrialização da calça jeans, as marcas globais de jeanswear estabelecem o conceito premium jeans que pode custar o preço de algumas jóias, se tornando o preferido das celebridades e atribuindo ao denim uma reputação que precede sua própria história e a peça, que nasceu com apelo proletário, ganha status de artigo de luxo.
Muito antes da declaração de que a Terra é azul feita por Yuri Gagarin, o cosmonauta soviético e o primeiro homem a viajar pelo espaço, em 12 de abril de 1961, um tecido, também azul, surgiu na Califórnia, no final do século XIX, sob a forma de uma roupa prática, simples e durável, revolucionando até hoje os modos de vestir.
A jornalista Lu Catoira, em Jeans, a roupa que transcende a moda, afirma que “agora o mundo é mais azul, pois o povo veste azul, o azul do índigo do jeans” (CATOIRA, 2006, p. 79).No "Dicionário de símbolos", o azul — o do índigo — representa subterfúgio, o ar. Conforme a teoria das cores de Goeth, o azul está associado à cor do céu, à distância. Talvez essa seja a razão pela qual gostamos tanto de contemplar o céu, não porque ele avance em nossa direção, mas por nos instigar a persegui-lo.
Assim, inconscientemente, o jovem aceitou o blue jeans e o incorporou à sua vida. O jingle da campanha publicitária da USTOP, veiculada em 1976, soube como ninguém interpretar esse ícone azul —“liberdade é uma calça velha, azul e desbotada, que você pode usar do jeito que quiser. Não usa quem não quer! USTOOOOOP! Desbote e perca o vinco, denim índigo bluuue. USTOP! Seu jeito de viver!”
Fonte
ZIBETTI, Silvana. Jeans, um símbolo da cultura jovem. Dissertação (Mestrado Mídia e Cultura) – Faculdade de Comunicação e Turismo, Universidade de Marília, Marília, 2007.
Um comentário:
Silvana, Parabéns pelo trabalho.
Comecei a estudar o assunto jeans e felizmente encontrei o sua dissertaçao.
Espero que em algum momento possamos trocar informaçoes.
sucesso !
Ivan Postigo
www.postigoconsultoria.com.br
Postar um comentário