lady’s e as jeanies, as primeiras calças jeans femininas Durante o período da Segunda Guerra Mundial, as mulheres norte-americanas, que haviam conquistado o direito ao voto no ano de 1920, substituíram os homens nas fábricas e conquistaram, também, o direito ao uso da calça em denim com modelagem adequada ao seu corpo, quando a Levi's lançou a Lady Levi’s 701, em 1935. Deste modo, as mulheres só foram receber a devida atenção da indústria do jeans muito tempo depois dos homens. E hoje, ironicamente, sustentam quase todo o mercado.
A revista Vogue, considerada na época a bíblia da moda, foi a primeira publicação a reconhecer o blue jeans como fashion (produto de moda). Em 1935, introduziu os jeans da Levi's para além do Oeste masculino, difundindo-o, também, em todo Leste e ao público feminino.
A partir dos anos 1940, a sedução causada pela fusão da cultura da publicidade e da indústria do entretenimento, passa a manipular cada vez mais as consciências dos consumidores, motivada pela emoção que se sustenta na crença inconsciente de “seduzir é morrer como realidade e se produzir como artifício” (BAUDRILLARD apud CATOIRA, 2006, p. 35).
Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Joan Crawford, Bette Davis se consagram como as divas do cinema, na mesma época em que a LEVI’S lança um modelo de jaqueta com corte especial para o público feminino.
Com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), uma nova depressão social abala a humanidade. As roupas femininas assumem uma função mais utilitária — um tipo de uniforme para o trabalho, com sapatos baixos e fechados. Nos conjuntos, prevalecia o corte inspirado nos ternos masculinos.
Com o fim da guerra, o sistema, em contrapartida, para abafar o movimento existencialista, apoiou o movimento da alta-costura. Aconteceu então o advento do new look de Christian Dior, que trabalhava a roupa com grandes volumes, pois a matéria-prima que durante a guerra era escassa, nesse período era encontrada em abundância. A melhor representante do new look era Eva Perón.
O estilista francês Christian Dior, idealizador do new look, em 1945, como Worth, em 1858, sugeria visões que desviavam a atenção da crise que o mundo vivenciava naquele período. Suas criações eram intangíveis, ocultando o esforço e a disciplina aos quais as mulheres seriam submetidas através dos ditames da moda.
De acordo com a historiadora Anne Hollander, com a consagração do new look, a indústria da moda padronizou, de maneira irreversível, os elementos do vestuário elegante e, portanto, “a expressão pessoal no vestuário tinha perdido seriamente prestígio, em particular na América, onde a conformidade se tornou um impulso mais forte do que nunca” (HOLLANDER, 1994, p. 206).
Muitas mulheres e, principalmente, os homens, passaram a agir com hostilidade contra os famosos estilistas, que estavam tornando-se celebridades e ricos pelo poder renovado que lhes tinha sido concedido pela nova publicidade a eles atribuída.
Mesmo a alta-costura sendo privilégio de poucos, os estilos produzidos em série seguiam fielmente suas tendências, e estes eram disponíveis a todos. De acordo com o texto da historiadora, algumas mulheres percebiam a alta-costura como uma “ditadora” e passaram a desenvolver um ressentimento contra a moda, excessivamente politizado e associado como a ascensão do feminismo recente. Em decorrência destes fatores, a moda passou a ser vista como uma opressão endêmica sobre o meio coletivo, que expressa os sentimentos das mulheres; um produto gerado pela sociedade capitalista e patriarcal para escravizar as mulheres sem o seu conhecimento.
Houve uma conexão com a transformação das relações entre homens e mulheres, com as mudanças na moda vestuário, que passaram a ter como referência o mercado de roupas industrializadas, “como os sexos já eram oficialmente iguais, o novo método para fugir do mito romântico era fazer com que parecessem idênticos tomando por base o modelo superior masculino, é claro” (HOLLANDER, 1994, p. 207).
Assim sendo, as mulheres aderiram ao uso das calças jeans industrializadas. Ainda conforme a autora, “o material expressivo usado para combater a situação veio desta vez das roupas de trabalho masculinas produzidas em série, mais notavelmente do célebre blue jeans, que dominou a segunda metade do século” (Ibidem, p. 208).
Atenta a estas mudanças no ambiente sociocultural e de olho no mercado da moda feminina, em 1949, a Wrangler, concorrente da Levi's, criou as Jeanies, calças jeans mais justas e com várias opções de cores. Desse modo, as mulheres podiam se servir dos jeans com corte e caimento sem concessões às tradições femininas, o que na época denotava certa liberdade. O sucesso das Jeanies durou até 1975.
A partir daí, o denim que havia sido usado pelas mulheres durante muito tempo nas fazendas e ranchos, passou a fazer parte da moda feminina urbana, com aparência menos relacionada à roupa masculina de trabalho do que à roupa prática e despretensiosa adotada para combater a idéia de qualquer tipo de restrição à elegância, conforme nos certifica a historiadora (HOLLANDER, 1994).
Marilyn Monroe, Jayne Mansfield e Betty Boop atribuem ao jeans a conotação sexy. Anos mais tarde, bastaram as novas e provocativas atrizes da época, como Marilyn Monroe e Jayne Mansfield, usarem um jeans apertado, para mostrar como a tradicional roupa de trabalho poderia se tornar sexy. Enquanto isso, no mundo dos negócios, Levi's, Wrangler e Lee apresentavam novidades, em estilos e cores, ousando na sensualidade das produções das peças em jeans e a indústria cultural do cinema possibilita o triunfo do sistema. Marilyn Monroe, exemplo de pin-up, comunicava o distanciamento da idéia de igualdade entre os sexos e a mulher passava a ser vista como um “objeto” de consumo. Desde então, a imagem do jeans sexy se consagra e é explorada até hoje.
Betty Boop, a morena sensual que tem penteado bastante original e personalizado, apareceu pela primeira vez como estrela de desenhos animados no princípio da década de 30, numa produção dos estúdios dos Irmãos Fleischer, em Nova Iorque, com o título de Dizzy Dishes. A personagem, que surgiu em 1930, inspirada na cantora Helen Kane, também vestiu jeans para parecer sexy. Desde então, sua fama precedeu sua história e, assim como outros grandes personagens dos anos 30 — Betty Boop, continua, ainda hoje — graças à originalidade de sua temática, sua sensualidade e ingenuidade — tendo um lugar de destaque no fabuloso “mundo” dos quadrinhos.
Em 1954, um fato curioso envolveu o jeans. Um coronel da força armada do exército dos Estados Unidos proibiu as esposas dos seus soldados de usarem blue jeans, em uma base norte-americana em Frankfurt, Alemanha, alegando que esse estilo afetava a boa imagem dos Estados Unidos. Essa atitude refletia o fato de que, no início dos anos 50, imperava uma atitude tradicional no vestir; desse modo, o denim só era apropriado ao trabalho duro. No entanto, esse pensamento começou a mudar sob a influência do cinema, que divulgava a idéia de culto ao corpo e a valorização do aspecto físico. Então, é introduzida no mercado uma linha de denim mais casual, para vestir a família inteira.
Referencias bibliográficas
CATOIRA, Lu. Jeans, a roupa que transcende a moda. Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2006.
HOLLANDER, Anne. O sexo e as roupas: a evolução do traje moderno. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
Fonte
ZIBETTI, Silvana. Jeans, um símbolo da cultura jovem. Dissertação (Mestrado Mídia e Cultura) – Faculdade de Comunicação e Turismo, Universidade de Marília, Marília, 2007.
4 comentários:
Adorei a citação de meu texto no seu trabalho. Agora, estou lançando "Moda jeans - Fantasia estética sem preconceito", dia 22 de outubro de 2009, na Livraria Travessa de Ipanema, às 19:30h. Adoraria que você pudesse comparecer.
Abraços,
Lu Catoira
Oi Lu, fui ao lançamento do seu livro em Recife, no 5º Colóquio de Moda.
Adorei suas publicações acerca do jeans.
Abraços,
Silvana
Oi Silvana,
Oi Lu
aqui, eu estou precisando de uma ajuda de vocês...eu estou no 7° periodo de design de moda e estou fazendo minha monografia sobre jeans,
dai queria poder contar com vocês...
meu emal é anapaulabraga_mg@hotmail.com
se voces puderem, entre em contato comigo, tá bom...
abraços
A loira de seios grandes não é a Jayne Mansfield e sim a Mamie Van Doren, outra loiraça da década de 50
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